quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Fernando Bezerra: “Acho Walter um bom candidato. Não será a vez de um jovem?”

Fernando Bezerra

O empresário Fernando Bezerra, senador da República por doze anos, líder dos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso Nacional, hoje à frente dos negócios da família, na construtora Ecocil, concedeu entrevista esta manhã ao “Jornal da Cidade” (94 FM), na qual avaliou o quadro político e administrativo do Rio Grande do Norte, o governo Rosalba Ciarlini (DEM), o PMDB – seu atual partido – e a sucessão de 2014.
Fernando Bezerra é citado nas altas rodas de conversas políticas como um bom nome para disputar o governo do Estado nas eleições do ano que vem. Como empresário de sucesso – a Ecocil é, além de tradicional, uma sólida marca empresarial – Bezerra é posto ao lado de outros empresários vitoriosos, como Marcelo Alecrim (ALE) e Flavio Rocha (Guararapes), como uma alternativa para tirar o RN do atraso.
Para o ex-senador, contudo, a situação político-administrativa do Estado é crítica. Ele concorda com a necessidade de um choque de gestão, mas não se mostra afeito ao convite. Para ele, a lembrança por nomes fora do contexto político atual do Estado “demonstra, sobretudo, uma angústia popular desse povo que foi às ruas” em junho de 2013. “Nós estamos caminhando para um desastre muito grande dentro do RN”.
Como peemedebista, porém, o empresário elogia as lideranças do partido – o ministro da Previdência, Garibaldi Filho, e o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves – mas destaca a possibilidade de candidatura do deputado estadual Walter Alves a governador. “Acho Walter Alves um nome bom. Há o argumento de que falta experiência, mas meu Deus, os experientes não têm levado o Estado no caminho que a sociedade deseja! Não será a vez de um jovem? Eu acho Walter um bom candidato”, afirmou.
Confira a entrevista com Fernando Bezerra.
Jornal de Hoje – Qual o impacto da crise para o crescimento do Estado?
Fernando Bezerra – Eu não teria condição de dar a você números a respeito disso. Eu acho que isso é um processo que vem se arrastando ao longo do tempo. Não estou aqui isentando a responsabilidade do atual governo, eu acho que ele tem um dever a fazer e que deve inclusive convocar toda a sociedade para fazê-lo. A situação do RN, pelo que eu vejo, é crítica. Eu acho que era hora de as pessoas serem convocadas, mesmo aquelas que estão fora do governo e quem tem muitas vezes uma visão muito mais crítica do governo e podem dar uma contribuição. Eu acho que a gente vive um péssimo momento, mas que não é fruto apenas deste governo, vem se acumulando ao longo do tempo e é preciso que os homens públicos saiam daquela situação que muitas vezes eu vejo, que você se elege com o apoio do povo e já está pensando na próxima eleição, ele se elege para se eleger de novo, profissionaliza-se na política e deixa de atender àquilo que é fundamental, que é o processo de crescimento econômico. Há muitos e muitos anos que eu não vejo alguém apresentar uma proposta concreta para o desenvolvimento do Estado do RN.
JH – Como recebe a lembrança de seu nome para o governo?
FB – Claro que eu fico feliz com isso, embora já distante o tempo em que eu fiquei na política e não tenho a menor pretensão de voltar. Eu acho que agora tenho o espaço que ocupei na minha família, nos meus negócios e não pretendo, mas isso demonstra, sobretudo, uma angústia popular desse povo que foi às ruas. Eu acho que foi um movimento absolutamente legítimo e bonito para o Brasil, infelizmente manchado pela atitude dos vândalos que saíram quebrando as cidades, quebrando o patrimônio público; eu acho que é muito fruto disso. O povo está achando e eu também penso que nós estamos precisando de uma gestão séria à frente do governo, uma gestão que reorganize as finanças do Estado. Para isso – eu acho que nunca é tarde – esse governo que está aí deveria convocar toda a sociedade para esse entendimento. Os sindicatos, os jornalistas, que eu acho que são hoje a vanguarda do que acontece de melhor e de mais crítico para a sociedade. A gente está abrindo os olhos da população, eu acho que nós precisamos disso nesse momento.
JH – A que atribui o RN não estar no caminho do desenvolvimento?
FB – Porque todos nos acostumamos ao mesmismo: Os mesmo fazem as mesmas coisas há muitos anos. A máquina está saturada, eu acho que há funcionários em excesso e de qualidade ruim – somos nós quem os pagamos isso e a sociedade tem o direito de cobrar. As filas que se veem para atendimento em todos os setores. O País tem hoje a única saída, que eu vejo, que é o investimento em educação. Eu estava olhando aí, não sei nem se há razões para entrar em uma greve no Estado, num Estado que está no caos, embora eu compreenda que uma das causas dessa má qualidade da educação que nós temos seja a baixa remuneração do professor, que vem acompanhada da má qualidade do professor. Eu acho que nós estamos precisando discutir esses temas que a sociedade trouxe às ruas com seriedade. O que é que o povo quer? Uma educação de qualidade, saúde de qualidade, transporte público – eu quase não chego aqui devido ao trânsito – não há sequer estacionamento. A prefeitura, nesse momento, no meu ponto de vista, devia estimular que o setor privado fizesse estacionamento para poder liberar as ruas e os carros andarem. São essas coisas que nós tanto vimos, por tanto tempo, que precisam de uma intervenção séria de quem governa, em todas as áreas.
JH – Considera que a discussão sobre a eleição seguinte se sobrepõe à discussão sobre melhoria da gestão e dos serviços?
FB – Eu acho que esse movimento… que a sociedade está em busca disso aí. Ou nós saímos do mesmismo… Eu me lembro, era muito jovem na época, mas Aluízio Alves foi um governador revolucionário. Todas as coisas importantes que o RN ainda hoje tem foram construídas pela gestão competente e criativa de Aluízio: a Cosern, a Telefônica, as casas populares. Eu me lembro de Cortez Pereira como um governador criativo, inovador. Nós estamos precisando disso, eu acho que o povo está em busca disso, tanto que eu acho que um nome que surja, até diferente desse contexto atual, eu acho que leva a eleição. Eu acho que os nomes que estão aparecendo são bons, eu não tenho críticas, Waltinho, Carlos Eduardo e tantos outros, que são nomes que ainda não foram testados pela sociedade. Ah é muito jovem! Mas talvez esteja na juventude uma saída para esse processo.
JH – Fala-se que o Estado precisa de um empresário de sucesso. Se esse nome fosse o seu, se recusaria?
FB – Primeiro eu não acho que vá ser cogitado esse nome, nem eu tenho interesse. Eu acho que nenhum de nós se negará em qualquer momento a ajudar o RN, mas tem muitas formas de ajudar. Eu acho que hoje eu promovo esse apoio na medida em que nós estamos produzindo, gerando emprego em várias áreas dentro das empresas que eu possuo. Eu gostaria muito de ver Flávio Rocha como um dos nomes que fossem cogitados como governador do Estado. É um empresário vitorioso, acho difícil que ele deixe isso, porque ele é o herdeiro para comandar esse imenso império que Nevaldo Rocha construiu pelo RN. Eu me referi a Flávio, porque tem também uma experiência política por trás dele aí. Não é que eu me negasse ou não, eu não quero mais. A minha família hoje não me aceitaria de maneira nenhuma numa condição dessa, e eu acho que tem direito. Já estou com 72 anos, acho que é hora de usufruir, muito embora eu trabalhe todos os dias, e muito, e pretendo fazer pelo resto da minha vida.
JH – O senhor está filiado ao PMDB?
FB – Eu estou filiado ao PMDB. Eu fiz isso quando deixei a política e Henrique disse: “Fernando, volte para o PMDB, foi onde você começou”. E eu apenas, como gesto de atendimento, uma cortesia, assinei. Mas cada vez que cogitam o meu nome eu fico pensando em me desfiliar, porque não tenho essa pretensão (risos).
JH – Flávio Rocha seria um bom perfil para administrar o Estado? Marcelo Alecrim?
FB – Eu citei (esses nomes) porque você citou nomes de empresários. Flávio Rocha é um empresário vitorioso, a diferença entre os dois é que um passou por uma experiência política, o outro não. Mas eu não acho que seja necessariamente o nome de um empresário que venha governar o RN. Nós precisamos de um bom gestor, alguém de sensibilidade política, mas o fator mais importante de quem governa é se assessorar bem, você procurar bons assessores, porque você sozinho não vai fazer um bom governo.
JH – O que acha da gestão Rosalba?
FB – Veja bem, julgar é muito difícil. Todos nós, se o governo fosse muito bem, nós devíamos, alguém devia, ou associaria, que podíamos fazer um pouco mais: ‘eu acho que está faltando isso, eu acho que está faltando aquilo’. Eu acho que nesse bojo da análise sobre o governo nós não podemos deixar de olhar para trás. Isso não aconteceu do dia para a noite. O governo em dois anos e meio se acaba, mas há uma evidente falha de gestão, de compromisso político. Por que não há um entendimento antes de fazer uma disputa? Será que é preciso que nós sejamos tão incapazes, que é preciso levar os nossos problemas para um tribunal para serem resolvidos? Tribunal nenhum vai resolver a questão do RN. Se há um excesso de gastos no Judiciário, na Assembleia Legislativa, no MP, o governo sente, pois, à mesa e habilmente mostre: olhe, eu estou numa situação de gravidade, nós vamos chegar aqui a um ponto de estrangulamento. Eu acho que é isso que está precisando e acho que nesse ponto há uma enorme falha do governo.
JH – Que nota dá para o governo Rosalba?
FB – Eu não quero atribuir nota nenhuma, eu quero é manifestar o meu desejo de que haja uma imediata correção de rumo. O rumo em que nós estamos caminhando. Nós estamos caminhando para um desastre muito grande dentro do RN.
JH – Acha que o PMDB deve lançar candidato ao governo?
FB – Eu acho que qualquer partido tem que buscar um nome bom para o momento atual. Eu acho que o PMDB é um grande partido e tem nomes como o de Garibaldi, que é meu amigo. Garibaldi, se for candidato, é um passeio, para qualquer coisa aqui no RN. Acho que Henrique vive um momento muito especial da vida dele, o acompanhei algumas vezes e vejo que ele atravessa um momento muito bom em sua vida; acho que era um nome também a ser testado. E acho Waltinho um nome bom. Há o argumento de que falta experiência, mas meu Deus, os experientes não têm levado o Estado no caminho que a sociedade deseja. Não será a vez de um jovem? Eu acho Walter um bom candidato – não estou descartando a candidatura de ninguém nem estou lançando candidatura, só estou respondendo a uma pergunta. Mas há outros nomes que poderiam ser analisados também.
JH – O senhor aceita disputar o governo?
FB – Não, eu não pretendo mais. Se o PMDB me convocar ou quem me convocar para dar uma contribuição de alguma forma, que não através de uma candidatura para disputar o governo eu estou absolutamente pronto. Eu acho que nesse momento há o perigo de aparecerem os salvadores da pátria. Esse é um momento muito perigoso para o Brasil, inclusive. Mas eu não pretendo mais voltar à política. Foram 12 anos de uma contribuição e eu tenho certeza que dei, pelo menos dentro dos meus limites, do meu esforço, da minha capacidade de trabalho, eu acho que dei uma contribuição ao Estado.
JH – Robinson Faria?
FB – Robinson é um bom nome, eu não tenho dúvida disso. Está lutando, está na política há algum tempo, vem de uma família de empresários, eu acho que é um dos nomes que tem aí.
JH – Do que o RN precisa?
FB – Eu apostaria nos jovens. Eu acho que nós precisamos dar uma balançada nesse Estado e alguém que tenha coragem de matar o galo na primeira noite: vamos pegar aqui, planejar e fazer no primeiro dia aquilo que é mais doloroso para o RN. Será que o Estado comporta tanta gente (servidores) como tem aí? Quantos gabinetes cheios! Eu acho que está precisando de alguém que olhe para as coisas pequenas do Estado. Quanto desperdício nós temos, meu Deus? Sinceramente, precisava de ter tantos carros no setor público? Por que o prefeito ou o governador não usa, na maioria das vezes, o próprio carro? Eu vou trabalhar no meu carro. Pra que isso? É porque no Brasil o chapa branca passou a dar status. Você se pendura ali atrás e acha que é o dono do mundo. Nós precisamos da simplicidade.
Fonte: Jornal de Hoje



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