terça-feira, 30 de outubro de 2012

Gabriela é a Emanuelle da TV brasileira


Foi a Gabriela rebelde de 1975 que introduziu o nu feminino nas telenovelas quando os amantes Juca (Pedro Paulo Rangel) e Chiquinha (Cidinha Milan) são pegos em flagrante na cama e jogados na praça de Ilhéus sem roupas. 
 
 
Filmada de longe, entretanto, apenas sugeriu e quase nada revelou. Por coincidência, 37 anos depois é a mesma história de Jorge Amado que vem demonstrar o interesse do público pelo erotismo leve das novelas.
 
 
O último capítulo da adaptação escrita por Walcyr Carrasco e Mauro Mendonça Filho alcançou respeitáveis 30 pontos, marca excelente se considerarmos que era uma sexta-feira e que o Ibope da novela das 21h, o programa de maior audiência no país, foi de 31 pontos naquele dia.
 
 
Mas são as redes sociais que dão a total dimensão desse escândalo positivo que foi o desfecho de Gabriela: numa cena bastante erótica e sensorial, digna do delírio de uma Emmanuelle, a protagonista Juliana Paes parecia deixar-se revelar mais do que nos outros 76 capítulos e instantaneamente subiu ao TT’s nacional do Twitter. “Estarei aqui acompanhando com vocês”, escreveu Juliana no seu perfil logo que a novela começou.
 
 
Ela deve ter lido de tudo: desde elogios entusiasmados dos admiradores, cumprimentos de mulheres pela boa forma invejável e cantadas daquelas que se ouvem ao passar na frente de uma obra.
 
 
 Foi assim com todas as atrizes do elenco que apareceram nuas na novela, a começar por Leona Cavalli, a quenga Zarolha, com seios de fora logo na primeira cena, e Bruna Linzmeyer, a Anabela, que dançou no Bataclã com direito a nu frontal, coisa rara na telematurgia para mulheres e ainda inédita para homens.
 
 
Em quase quatro décadas de nu na teledramaturgia, muita coisa mudou na oferta  de gente pelada por aí. Depois da cena singela dirigida por Walter Avancini na Gabriela de 1975, a nudez virou arma de audiência na década de 1980 e começo dos anos 1990, com as produções recheadas de beldades da TV Manchete, como Dona Beija (1986), e os banhos de cachoeira de Maitê Proença, a primeira a de fato aparecer nua numa novela, e a ode à natureza de Pantanal (1991), entre tantos títulos.
 
 
A Globo contra-atacou, entre tantos exemplos, com a minissérie Boca do Lixo (1990), com a Isadora Ribeiro na abertura de Tieta (1989) e o traseiro do modelo Vinícius Mane na abertura de Brega & Chique (1987). Primeiro nu masculino, acabou coberto por uma folha de parreira e depois novamente liberado.
 
 
Com pornografia à vontade na internet e canais específicos na TV a cabo, não parecia ser mais novidade mostrar um naco a mais de pele na TV aberta – ou necessário, já que com a derrocada da Manchete em 1999, a emissora teve sossego na teledramaturgia. Outra barreira foi classificação indicativa. Em 1991, Patrícia Pillar mostrou os seios na novela das 18h Salomé, mas em 2008, Aguinaldo Silva teve de atear fogo no bordel de Duas Caras por causa das apresentações de Alzira (Flávia Alessandra) no poste, sob a ameaça de a novela ser classificada para depois das 22h – nas novelas das 21h, a nudez se tornou ingrediente de risco, nem sempre gerando polêmica positiva. Dessa forma, cenas picantes foram reservadas às minisséries e, mesmo assim, passaram a ser pouco frequentes.
 
 
Com a criação da faixa das 23h, inaugurada no ano passado com o remake de O Astro, o erotismo voltou como experimentação do diretor Mauro Mendonça Filho.  O bafafá após a exibição das cenas mais ousadas denunciou um certo conservadorismo do público, mas também demonstrou que a curiosidade sobre a nudez e a sua capacidade de atrair atenção para uma trama não mudou – ainda mais quando se trata de estrelas como Alinne Moraes e Juliana Paes.
 
 
Um ano mais tarde, com o respaldo de Jorge Amado, autor de histórias reconhecidamente sensuais, o “sexo com história” voltou com tudo à TV. E a mesma Gabriela  que rendeu o primeiro nu feminino termina agora como a novela mais erótica de todas – os moradores da Araxá de Dona Beija (Maitê Proença) e os tuiuiús do Pantanal de Juma Marruá (Cristiana Oliveira) certamente não viram tanto Gabriela, as meninas do Bataclã e até as recatadas Malvina (Vanessa Giácomo) e Gerusa (Luiza Valdetaro) deixaram o povo de Ilhéus ver.
 
 
Abaixo, você revê a abertura de Brega & Chique (1987), sem censura. E a famosa cena sequência em que Maitê Proença cavalga nua pelas ruas de Araxá na novela Dona Beija (Manchete, 1986), erotismo inédito para a época.
Fonte:  cenariomt

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