A opinião dos jogadores e gestores se divide, mas todos concordam que a iniciativa foi uma demanda da televisão, sem a qual o esporte não sobrevive (Divulgação) |
Uma importante mudança nas Superligas Masculina e Feminina foi
anunciada nesta quarta-feira, 14 de agosto, em plenária com
representantes da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), dos clubes
participantes e da Comissão de Atletas masculina. Nesta temporada, os
campeonatos terão sets de 21 pontos, em vez de 25. As paradas técnicas
ocorrerão a sete e a 14 pontos. Para atletas e treinadores, isso
significa uma drástica diminuição de tempo de partida e a criação de uma
nova estratégia de jogo.
A opinião dos jogadores e gestores
se divide, mas todos concordam que a iniciativa foi uma demanda da
televisão, sem a qual o esporte não sobrevive. Em 2000, foi eliminada a
vantagem no saque para diminuir o tempo de jogo. Agora, com o mesmo
intuito, diminuiu-se o número de pontos de cada set.
Além
disso, foi decidido que as equipes da Superliga poderão completar a
lista de inscritos com jogadores de clubes eliminados na Superliga B e
que os delegados de arbitragem de jogo passarão a ser neutros, indicados
pela CBV, e não mais pelas federações.
Por meio de
nota oficial, Renato D’Ávila, superintendente da CBV, disse que o novo
formato trará mais agilidade ao jogo e já tem demonstrado resultados
positivos nos primeiros jogos realizados no Campeonato Paulista. Ainda
em nota, a CBV diz que a expectativa é de que “o jogo ganhe ainda mais
dinamismo, ganhando em emoção para o espectador”.
José
Montanaro, ex-jogador da chamada “seleção de prata” dos anos 80, é
gestor do time de vôlei do Sesi-SP e participou das plenárias. Alguns
meses antes, segundo ele, funcionários de marketing dos clubes e a CBV
estiveram em reunião com a televisão para aprovar a diminuição do número
de pontos de cada set: “O martelo já foi batido ali”. Ainda de acordo
com Montanaro, o assessor da Federação Internacional de Voleibol,
organização que deu aval para as alterações, foi diretor de esportes de
televisão durante anos. “Ele conhece profundamente o vôlei e pensa no
esporte do ponto de vista do jornalista e do espectador. É como um
filme, você não quer assistir a um filme de 2h30”. Para o ex-jogador, o
esporte ficará mais intenso e interessante. “É uma mudança quase
cultural, muda o timing completamente”.
O central
Gustavo, do Canoas Vôlei, foi representante da Comissão de Atletas na
plenária e declarou que ainda não tem uma opinião formada sobre a nova
regra: “Prefiro jogar com os 21 pontos para depois avaliar. Não teve uma
votação, fomos comunicados de que foi uma exigência da televisão”.
Jogadores
que já testaram a nova regra no Campeonato Paulista disseram que a
medida transforma completamente a dinâmica do jogo. Para Vini, central
do Brasil Kirin, os jogadores tem de ficar atentos a esse tipo de
mudança. “Diminuíram o tempo da partida e também do saque. Não temos
tempo para pensar na jogada e nossa margem de erro é quase nula. A
Comissão de Atletas tem que ter muito cuidado e preservar a essência do
esporte. A interferência da televisão não pode descaracterizar o
esporte.”
Sandro, levantador e capitão do time do
Sesi-SP, acha que a mudança não é prejudicial ao esporte e que os
jogadores brasileiros não devem ter dificuldade de adaptação. “As
pessoas acham que não faz diferença, mas faz. Você não pode deixar a
equipe adversária abrir vantagem, porque fica muito mais difícil de
recuperar agora. Mas não acho que o Brasil terá dificuldade em se
adaptar. Mudou porque fica melhor para a televisão e não é a primeira
vez que isso acontece. Essa mudança em particular não muda a essência do
jogo, então acho válida”.
Fabio, gestor do Canoas
Vôlei, esteve presente na reunião e diz que o clube não tem nenhuma
posição a respeito da nova regra. “A proposta atende aos interesses da
televisão, nossa opinião não foi perguntada. Tecnicamente não podemos
avaliar se é benéfica ou não porque ainda não testamos. Se nos dará mais
transmissões, mais patrocínio, é mais receita para os clubes. Os
interesses da televisão devem ser casados aos do esporte. Torcemos por
isso”.
Os veteranos da década de 80 foram os
primeiros jogadores de vôlei a se tornarem celebridades esportivas no
Brasil e conhecem a importância da cobertura televisiva. Em 1983, a
Seleção Brasileira enfrentou a União Soviética diante de mais de 95 mil
pessoas no Maracanã – o maior público da história do vôlei. A partir
daí, o esporte consolidou o interesse da imprensa e tornou-se febre
nacional. Em 1984, o Brasil ficou em segundo lugar nos Jogos de Los
Angeles e conseguiu a primeira medalha olímpica no vôlei.
Para
William Carvalho, companheiro de Montanaro na “seleção de prata” e um
dos responsáveis por popularizar o saque “Viagem ao Fundo do Mar”, a
diminuição de pontos dos sets mudará muito o jogo. “Essa influência da
televisão sobre o esporte é ruim às vezes para os jogadores, mas
precisamos nos adaptar porque dependemos da exposição e é o que acontece
para conseguirmos um espaço”.
Montanaro diz que o
desenvolvimento do esporte no Brasil depende de exposição midiática.
“Em 81, conquistamos a primeira medalha no vôlei brasileiro e, quando
voltei para o Brasil, só tinha minha família me esperando no aeroporto.
Ninguém ficou sabendo. Em 83, com a transmissão do jogo e narração do
Luciano do Valle, o esporte se transformou num espetáculo. A televisão
não tem o interesse de desconfigurar o esporte, mas é uma empresa que
visa o lucro e nós temos que nos tornar um produto comercialmente viável
para ela”.
Fonte: Fox Sports (Reportagem de Manuela Azenha)
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