Aparelhos piratas vendidos por até R$ 550 abrem canais codificados de TV por assinatura e geram rombo de até R$ 2 bilhões no setor |
Anunciados pelas ruas do centro de São Paulo ou em sites de comércio
eletrônico pela internet, decodificadores piratas estão ao alcance de
quem quiser. Os pequenos aparelhos que destravam um número muito maior
de canais de TV paga do que o previsto pelo plano contratado criaram um
lucrativo mercado paralelo, mas a atividade é considerada ilegal para os
envolvidos – inclusive o consumidor – e geram perdas de receita às
operadoras de TV paga que chegam a R$ 2 bilhões.
Há gente de todo tipo atrás dos tais decodificadores. Em cerca de dez
minutos, encostam quatro clientes no balcão de um estabelecimento que
diz vender o dispositivo. Dois pedem para atualizar o aparelho –
periodicamente, as operadoras trocam os códigos dos canais e causam
“apagões” nos sinais piratas, tentando desestimular a ilegalidade –, o
terceiro é funcionário de uma das grandes operadoras, chega com uniforme
da empresa, e quer comprar decodificadores. O último quer algo mais
arrojado, um aparelho original da NET com cartão hackeado, que abre
todos os canais. “Abre inclusive os HDs. Só não pega mais os de luta,
mas compensa demais”, conta o cliente, antes de pagar R$ 300 pelo
aparelho e R$ 30 pelo cartão.
Segundo o lojista, que pediu para não ser identificado, é muito comum
ver funcionários de operadoras por ali. “Eles compram o aparelho de mim
e até me vendem alguns também.” Experiente, vende os aparelhos desde
2011, sabe da ilegalidade e já foi autuado várias vezes. “Já apanhei
muito de polícia, rapaz”, diz. Mas vive mais animado com o aumento das
vendas e, obviamente, dos ganhos (seus preços variam de R$ 320 a R$ 550)
e já dobrou o número de lojas que administra.
A
alegria, no entanto, não deve durar muito. E ele sabe disso. “Nosso
negócio não aguenta mais dois anos. As operadoras estão fechando cada
vez mais os canais, daqui a pouco o pessoal não vai conseguir mais
contornar e a gente vai ficar no escuro.”
Antonio Salles Neto, diretor do Sindicato das Empresas de TV por
Assinatura (SETA) e coordenador do Grupo de Combate à Pirataria na
Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA), diz que as
empresas de segurança de sinal estão ficando mais agressivas. “Estão
fazendo mais apagões, em janeiro teve um grande, e isso só deve
aumentar”, diz.
Ele explica que a dificuldade das empresas de TV é imprimir as
soluções de segurança sem afetar o assinante regular. “Precisamos
consertar o avião em voo com todo mundo dentro.”
Segundo a ABTA, o número especulado de decodificadores piratas (com
tecnologia “Free-to-air”, chamada FTA) no Brasil é de 2 milhões – ou até
o dobro disso. Os dispositivos são usados para captar sinal transmitido
por satélite (SKY, Claro HDTV, Oi) ou cabo (NET, GVT, Vivo Internet).
Contra isso, empresas de toda a cadeia do setor (como SKY, Claro,
Telefônica, Telecine, HBO, Globosat, e a de segurança Nagra) se uniram
em janeiro de 2013 e formaram a Aliança Internacional contra a Pirataria
para “monitorar, treinar, dar suporte jurídico e coordenar a pirataria
em sua fase inicial” em toda a América Latina.
Para a diretora executiva da associação, Marta Ochoa, “a falta de
consciência da sociedade sobre o consumo de produtos e serviços
piratas”, a “deficiência no cumprimento da lei por parte das
autoridades” e a “inexistência de regulação específica” são fatores que
contribuem para a proliferação desse tipo de atividade, encarecendo os
serviços para os consumidores legais.
Crime. Os aparelhos têm importação proibida desde 2011, bem como sua
comercialização, uma vez que não são homologados pela Agência Nacional
de Telecomunicações (Anatel). O responsável por um sinal pirata (o
chamado CS ou KS) pode ser enquadrado em crime administrativo por
infringir a Lei Geral de Telecomunicações, podendo ser processado por
exploração indevida de ativos das operadoras e quebra de direito autoral
por transmitir conteúdo sem contrato com as produtoras.
Já o vendedor de aparelhos pode ser enquadrado por crime contra as
leis de consumo (devido a ausência de certificação) e contrabando. Sobre
o consumidor desse tipo de produto e serviço, o Senado avalia um
projeto de lei (nº 186, de 2013) que estabelece sanções por
“interceptação ou recepção não autorizada dos sinais de TV por
assinatura”. O texto foi aprovado pela Comissão de Ciência e Tecnologia
em dezembro e aguarda parecer da Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania.
Para a advogada do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec),
Veridiana Alimonti, é preciso pensar nas razões que levam os
consumidores a recorrerem a esse tipo de serviço. “Depois que a Anatel
tirou a cobrança do ponto extra, não havia decodificador no mercado.
Assim, ele teria que alugar da operadora”, diz. “Isso influencia. Mas se
as operadoras tornarem seus preços ainda mais populares, os
consumidores tendem a se regularizar.”
A UTILIZAÇÃO DE UM DECODIFICADOR NÃO CERTIFICADO
1. O aparelho
Para TV a cabo, o usuário contrata o plano mais barato e substitui o aparelho regular
Para TV a cabo, o usuário contrata o plano mais barato e substitui o aparelho regular
2. Ou antena
Para transmissão por satélite, é preciso instalar também uma segunda antena
Para transmissão por satélite, é preciso instalar também uma segunda antena
3. Sinal
Após instalação, o aparelho decodifica o sinal e rastreia canais que pode exibir
Após instalação, o aparelho decodifica o sinal e rastreia canais que pode exibir
4. Gato…
Para inibir a pirataria, as operadoras alteram seus sistemas de códigos de canais
Para inibir a pirataria, as operadoras alteram seus sistemas de códigos de canais
5. e rato
Os chamados “piratas” desbloqueiam o novo código e o espalham pela internet
Os chamados “piratas” desbloqueiam o novo código e o espalham pela internet
Fonte: Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário