Nas telas do cinema, o filme Ninfomaníaca, do diretor Lars Von
Trier, que estreou na semana passada, mostra a história de Joe, uma
mulher compulsiva por sexo que age de maneira insensível para ter
satisfação sexual. Especialistas ouvidos explicam
este vício está ligado à depressão e pode prejudicar a saúde física,
causando doenças, além da perda do convívio social.
De acordo com a psiquiatra, professora da FMUSP (Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo) e coordenadora do Prosex (Programa de
Estudos em Sexualidade) da USP, Carmita Abdo, o diagnóstico de compulsão
sexual se dá quando o sexo passa a ser prioridade na vida da pessoa e
acaba prejudicando outras atividades do cotidiano, como trabalho, horas
de sono, alimentação.
— As pessoas compulsivas por sexo emagrecem, têm relações desprotegidas
sem medo de contrair doenças sexualmente transmissíveis e chegam ao
ponto de pagar profissionais para satisfazerem suas necessidades.
Além dos prejuízos físicos, como doenças e a fadiga, o psicoterapeuta
Ângelo Monesi, diretor do Instituto Paulista de Sexualidade, explica que
a pessoa poderá sofrer também consequências sociais.
— Pessoas próximas a ela, como marido, namorado, por exemplo, podem se
distanciar. Há também o afastamento da família e a desconstrução da
própria vida social. Tem gente que só se aproxima daquela pessoa para
conseguir aquele fim.
Carmita ainda explica que a causa da doença é desconhecida, mas a
hipótese mais provável é que seja um "distúrbio de neurotransmissores
que provoca a vontade exacerbada por sexo".
Falta de desejo afeta 48% das mulheres com disfunções sexuais
Já do ponto de vista de Monesi, toda compulsão, seja ela sexual ou não, tem como base a depressão.
— Normalmente a compulsão sexual se desenvolve quando a pessoa tem
algum tipo de histórico de repressão ou frustação nesta área. O
obsessivo não tem domínio sobre a própria vontade. A pessoa não pensa
direito.
Idade e sexo
Apesar de os termos para descrever o apetite sexual excessivo serem
diferentes para mulheres (ninfomania) e homens (satiríase), a psiquiatra
explica que não há distinção entre os sexos na hora de definir o
transtorno.
— A compulsão sexual é mais frequente em homens, mas vem crescendo
entre o grupo feminino. Uma das explicações pode ser a mudança no
comportamento sexual e também o fato de as mulheres ocultaram menos seus
desejos.
Os primeiros sinais do problema podem aparecer ainda na infância e adolescência, mas costuma atingir o auge na vida adulta.
— As crianças podem mostrar interesse por masturbação e objetos
eróticos e passam a ser adolescentes com uma atividade sexual acima da
média. Nas pessoas mais velhas isso não é comum, mas caso a pessoa
apresente algum sinal de compulsão sexual é importante investigar, pois
pode estar relacionada com outras causas, entre elas, demência.
Tratamento
O tratamento não significa abstinência sexual, mas reeducação que deve
ser trabalhada em conjunto com o psicoterapeuta. Carmita explica que os
medicamentos entram em cena para controlar a libido. Sem o
acompanhamento profissional a pessoa não consegue reduzir a frequência
das relações.
— É algo incontrolável que também acontece com outros tipos de compulsão, como não parar de lavar as mãos.
Pornografia infantil
De acordo com Monesi, hoje em dia, há “uma onda por compulsão por
pornografia”, principalmente na internet. Segundo ele, isso vem
acontecendo por causa da baixa capacidade de a pessoa lidar com suas
frustações.
— Há homens viciados em sexo na internet, mas não funcionam na cama com
as mulheres. Isso acontece, pois na internet, ele faz no ângulo que ele
quer, com a mulher que ele quer, ou seja, vive a experiência sem
precisar fantasiar.
Fonte: R7
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