Foi a Gabriela rebelde de 1975 que introduziu o nu feminino nas
telenovelas quando os amantes Juca (Pedro Paulo Rangel) e Chiquinha
(Cidinha Milan) são pegos em flagrante na cama e jogados na praça de
Ilhéus sem roupas.
Filmada de longe, entretanto, apenas sugeriu e quase nada revelou.
Por coincidência, 37 anos depois é a mesma história de Jorge Amado que
vem demonstrar o interesse do público pelo erotismo leve das novelas.
O último capítulo da adaptação escrita por Walcyr Carrasco e Mauro
Mendonça Filho alcançou respeitáveis 30 pontos, marca excelente se
considerarmos que era uma sexta-feira e que o Ibope da novela das 21h, o
programa de maior audiência no país, foi de 31 pontos naquele dia.
Mas são as redes sociais que dão a total dimensão desse escândalo
positivo que foi o desfecho de Gabriela: numa cena bastante erótica e
sensorial, digna do delírio de uma Emmanuelle, a protagonista Juliana
Paes parecia deixar-se revelar mais do que nos outros 76 capítulos e
instantaneamente subiu ao TT’s nacional do Twitter. “Estarei aqui
acompanhando com vocês”, escreveu Juliana no seu perfil logo que a
novela começou.
Ela deve ter lido de tudo: desde elogios entusiasmados dos
admiradores, cumprimentos de mulheres pela boa forma invejável e
cantadas daquelas que se ouvem ao passar na frente de uma obra.
Foi assim com todas as atrizes do elenco que apareceram nuas na
novela, a começar por Leona Cavalli, a quenga Zarolha, com seios de fora
logo na primeira cena, e Bruna Linzmeyer, a Anabela, que dançou no
Bataclã com direito a nu frontal, coisa rara na telematurgia para
mulheres e ainda inédita para homens.
Em quase quatro décadas de nu na teledramaturgia, muita coisa mudou
na oferta de gente pelada por aí. Depois da cena singela dirigida por
Walter Avancini na Gabriela de 1975, a nudez virou arma de audiência na
década de 1980 e começo dos anos 1990, com as produções recheadas de
beldades da TV Manchete, como Dona Beija (1986), e os banhos de
cachoeira de Maitê Proença, a primeira a de fato aparecer nua numa
novela, e a ode à natureza de Pantanal (1991), entre tantos títulos.
A Globo contra-atacou, entre tantos exemplos, com a minissérie Boca
do Lixo (1990), com a Isadora Ribeiro na abertura de Tieta (1989) e o
traseiro do modelo Vinícius Mane na abertura de Brega & Chique
(1987). Primeiro nu masculino, acabou coberto por uma folha de parreira e
depois novamente liberado.
Com pornografia à vontade na internet e canais específicos na TV a
cabo, não parecia ser mais novidade mostrar um naco a mais de pele na TV
aberta – ou necessário, já que com a derrocada da Manchete em 1999, a
emissora teve sossego na teledramaturgia. Outra barreira foi
classificação indicativa. Em 1991, Patrícia Pillar mostrou os seios na
novela das 18h Salomé, mas em 2008, Aguinaldo Silva teve de atear fogo
no bordel de Duas Caras por causa das apresentações de Alzira (Flávia
Alessandra) no poste, sob a ameaça de a novela ser classificada para
depois das 22h – nas novelas das 21h, a nudez se tornou ingrediente de
risco, nem sempre gerando polêmica positiva. Dessa forma, cenas picantes
foram reservadas às minisséries e, mesmo assim, passaram a ser pouco
frequentes.
Com a criação da faixa das 23h, inaugurada no ano passado com o
remake de O Astro, o erotismo voltou como experimentação do diretor
Mauro Mendonça Filho. O bafafá após a exibição das cenas mais ousadas
denunciou um certo conservadorismo do público, mas também demonstrou que
a curiosidade sobre a nudez e a sua capacidade de atrair atenção para
uma trama não mudou – ainda mais quando se trata de estrelas como Alinne
Moraes e Juliana Paes.
Um ano mais tarde, com o respaldo de Jorge Amado, autor de
histórias reconhecidamente sensuais, o “sexo com história” voltou com
tudo à TV. E a mesma Gabriela que rendeu o primeiro nu feminino termina
agora como a novela mais erótica de todas – os moradores da Araxá de
Dona Beija (Maitê Proença) e os tuiuiús do Pantanal de Juma Marruá
(Cristiana Oliveira) certamente não viram tanto Gabriela, as meninas do
Bataclã e até as recatadas Malvina (Vanessa Giácomo) e Gerusa (Luiza
Valdetaro) deixaram o povo de Ilhéus ver.
Abaixo, você revê a abertura de Brega & Chique (1987), sem
censura. E a famosa cena sequência em que Maitê Proença cavalga nua
pelas ruas de Araxá na novela Dona Beija (Manchete, 1986), erotismo
inédito para a época.
Fonte: cenariomt
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