Anna Carolina Papp, Andreza Matais e Leonêncio Nossa, de Estado de S. Paulo
SÃO PAULO e BRASÍLIA / O Dia do Radialista, comemorado no
dia 7 de novembro, terá este ano um sabor especial. Nessa data, a
presidente Dilma Rousseff vai receber donos de rádios no Palácio do
Planalto para assinar o decreto que permite às emissoras AM migrar para a
faixa FM, atendendo a uma demanda antiga do setor.
A mudança, que será opcional, tem por objetivo dar um novo fôlego às
rádios AM, prejudicadas com o aumento de ruídos e muitas interferências
em suas transmissões. Enquanto isso, as rádios FM, que desde os anos 80
sempre tiveram maior aceitação entre os públicos mais jovens, passaram a
ganhar mais espaço. Mesmo sem o grande alcance das AM, as FM apresentam
sinais mais limpos e também podem ser sintonizadas por dispositivos
móveis.
"As emissoras de rádio AM vêm perdendo competitividade por causa da
interferência no seu sinal. Essa é uma questão física: o meio de
propagação desse tipo de onda é muito suscetível a ruídos, prédios,
energia elétrica, barulho de carros", afirma Daniel Slaviero, presidente
da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).
Para Hilton Alexandre, presidente da Associação de Emissoras de Rádio
e TV do Estado do Rio de Janeiro (Aerj), "é uma questão de
sobrevivência". "Há uma queda gradativa: os jovens não conhecem a AM nem
a aceitam, porque a qualidade de áudio é muito ruim. E as pequenas
emissoras estão sendo engolidas, porque não conseguem mais fazer
audiência", afirma ele, que desde 2009 pleiteia a migração, juntamente
com outros radiodifusores.
A mudança será possibilitada com a transferência de emissoras de TV
do analógico para o digital. Os canais 5 e 6 VHF devem ficar vagos em
2015, quando a TV analógica for de fato desativada. Em cidades onde a
faixa FM praticamente não comporta mais rádios, como em São Paulo, Rio
de Janeiro e Belo Horizonte, as emissoras AM serão alocadas nos canais
de televisão recém desocupados, chamados de "faixa estendida". Onde o FM
não estiver saturado, as rádios serão alocadas na própria faixa já
existente.
Convertida para rádio, a frequência dos canais 5 e 6 da TV irá de 76 a
88 MHz, tornando-os "vizinhos" da atual faixa FM, que opera de 88 a 108
MHz (veja quadro). O novo espectro do FM obrigará a indústria a
produzir aparelhos de rádio que consigam sintonizar a nova faixa. Por
isso, diz o presidente da Abert, haverá um prazo de adaptação de cinco
anos, em que o radiodifusor poderá realizar transmissão simultânea em AM
e FM.
Neste primeiro momento, os canais desativados da AM não despertam
interesse do governo ou do mercado. "Por enquanto, a faixa ficará sem
uso, até desenvolvermos uma tecnologia para aproveitar esse espaço", diz
o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Ele afirma que foram
feitos testes para averiguar se a digitalização, que já ocorre no FM,
seria uma solução para os percalços do AM. No entanto, afirma, os
resultados não foram satisfatórios. Novos testes, porém, ainda serão
realizados, diz.
Custos. A mudança para o FM é opcional, porém onerosa. Os
radiodifusores terão de pagar por uma nova outorga, de FM, o que será
custoso. Além disso, terão de adquirir equipamentos condizentes com a
nova tecnologia. "Será necessário comprar uma nova antena e um novo
transmissor, o que vai ficar por volta de R$ 70 mil a R$ 80 mil", diz
Slaviero. A Abert estima, apenas com os aparelhos, um gasto de R$ 115
milhões para o setor.
Também podem entrar na conta gastos logísticos, uma vez que, enquanto
os transmissores de AM precisam estar alocados em um lugar plano, os de
FM costumam ficar em lugares altos, como no topo de prédios. Os gastos
de energia e manutenção, contudo, são bem menores em rádios FM.
Segundo a Abert e o Ministério das Comunicações, as rádios AM que
optarem pela migração ocuparão na faixa FM um espaço correlato, sem
perder potência. "Ela vai ter o mesmo alcance que tinha com o AM", diz o
ministro, se referindo ao raio de abrangência principal da rádio,
conforme estabelecido pela outorga.
Porém, as rádios perderão a amplitude geral de sua cobertura, uma vez
que a AM tem um alcance maior que a FM. Uma rádio que opera na capital
paulista pode, por exemplo, "pegar" no litoral, ainda que com sinal de
baixa qualidade. "Se a emissora cobria dez municípios, dificilmente vai
continuar assim", diz Ronald Siqueira, engenheiro da Sociedade
Brasileira de Engenharia de Televisão (SET).
Fonte: Estadão Faça já seu plano de saúde!!! Ligue agora. (84) 8863.6877 / 9156.1273
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